Querido diário,
Hoje me perguntaram como que eu havia feito para
curar a minha depressão e tendo em vista o rosto da pessoa que me escutava,
acredito que minha resposta a surpreendeu...
Como já havia contado, eu tive uma depressão muita
forte e grave quando fui morar no país do meu marido, a Bélgica. Eu tinha 21
anos quando fui, era muito nova. Estava entrando na fase adulta, me conhecendo,
me ajustando a um mundo que muitas vezes pode se revelar extremamente cruel.
Chegando à Bélgica, a mala do meu marido foi roubada,
que momento ruim, desespero, tristeza, estresse e o pior foi a indiferença dos
policias com relação ao fato e o olhar de desinteresse quanto eu tentava falar
alguma coisa. O contato com os belgas não foi dos melhores, tudo diferente: a
frieza, a falta de educação, o racismo, o preconceito... Não estou dizendo que
as coisas acima só existem lá, por todos os lugares onde existam seres-humanos essas coisas estarão presentes (claro que na Europa é mais intenso). Além de
tudo isso, havia a falta dos meus: os amigos, pai e mãe, o irmão, a família,
somente quem já passou por uma situação assim sabe como é triste e doloroso.
A depressão que tive nesse período, não foi a
primeira, já havia tido algumas “depressõeszinhas” aqui e ali, nada de muito
forte, talvez nem fosse mesmo depressão e sim alguns momentos de tristeza. Mas
durante aqueles anos na Bélgica o sentimento de tristeza se tornou patológico e
virou uma depressão profunda, com direito a crises de pânico, três meses sem
sair de casa, crises constantes de choro incontrolável até dormir e muitas,
muitas horas por dia de sono. Depressão é REALMENTE uma doença terrível, ela
dói nos ossos na carne, dói no coração, na autoestima, na sua força e nos
seus sonhos. Ela muda (de fato) o seu modo de ver a vida, ver o mundo, tudo é
tão ruim, frustrante. O ódio de tudo e de todos monta a um nível insuportável,
que existe até no momento de se olhar no espelho, vendo a imagem de alguém tão sem brilho, não se consegue sentir pena, somente ÓDIO de si mesmo...
(Muitas vezes eu fiz exatamente isso na frente do espelho...rs)
Querido diário, “após a tempestade vem a bonança”
sábias palavras, realmente acredito que o tempo cura tudo. Mas algumas coisas
marcam tão profundamente que deixam marcas, cicatrizes... Porém, não são essas
cicatrizes que nos determinam e sim como nós as encaramos; e foi essa a
resposta que “transformou” o rosto da pessoa que me ouvia. Depressão em minha
opinião é uma doença que não se cura, ela está sempre lá a espreita, porém pode
e deve ser controlada. Como? Bom, sou muito adepta do autoconhecimento (como já
disse aqui inúmeras vezes rs - leia aqui), pois para mim é um método que funciona, nunca
escondo nada de mim mesma, seja um erro, uma frustração, uma carência, sei de
tudo que acontece comigo e compartilho com uma pessoa de minha confiança (para
alguns essa pessoa é o psicólogo...). Outra coisa muito importante e que já foi
dita no post, O começo, é perceber que depressão e tristeza são coisa
COMPLETAMENTE diferentes.
Hoje em dia, sei que eu não estava preparada para
viver tudo que vivi na época que morei na Bélgica, simplesmente não tinha
estrutura. Mas NÃO sofro por nada do que aconteceu, não tenho medo que aconteça
de novo (antigamente eu tinha) e tenho a consciência de que SOU QUEM EU SOU E
TENHO A FORÇA QUE TENHO hoje em dia por causa da minha história, dos meus
sofrimentos e de minhas alegrias. Cada momento nos preenche da forma que nós
aceitamos e recebemos, pois nossa MAIOR fortaleza SEMPRE será: nós mesmos.
(Eu tenho a foooorçaaaa...hahahaha)